Como está o mercado da soja?

Na expectativa do relatório de oferta e demanda do USDA, anunciado neste dia 12/08, a partir de um quadro climático que sempre preocupa, as cotações da soja, em Chicago, registraram altas nesta semana. O primeiro mês cotado chegou a bater em US$ 17,09/bushel no fechamento da quinta-feira (11). Todavia, é bom lembrar que este primeiro mês se encerra no atual final de semana e, portanto, trabalha com poucos contratos negociados, não servindo mais de referência para o mercado físico mundial.

Com isso, conta de fato o mês seguinte, o qual fechou a quinta-feira (11) com valores bem menores, ou seja, em US$ 15,20/bushel. Mesmo assim, em alta sobre sua posição uma semana antes, que havia sido de US$ 14,61/bushel. Neste cenário, vale salientar as fortes elevações das cotações do farelo de soja, que voltaram aos níveis de US$ 520,00/tonelada curta, e do óleo de soja, que voltou aos quase 72 centavos de dólar por libra-peso, algo que não ocorria desde o final de junho.

Neste contexto, o relatório do USDA indicou, para a safra 2022/23, os seguintes números:

1) A produção dos EUA foi aumentada para 123,3 milhões de toneladas;
2) Os estoques finais estadunidenses passaram a 6,7 milhões de toneladas, ganhando 500.000 toneladas sobre julho;
3) A produção mundial da oleaginosa aumentou para 392,8 milhões de toneladas, ganhando 1,4 milhão de toneladas;
4) Os estoques finais mundiais chegariam a 101,4 milhões de toneladas, ganhando 1,8 milhão sobre o relatório de julho;
5) O preço médio do bushel de soja, ao produtor dos EUA, ficaria em US$ 14,35;
6) A produção brasileira de soja permaneceu projetada em 149 milhões de toneladas, enquanto a da Argentina se manteve em 51 milhões;
7) As importações da China somariam 98 milhões de toneladas, sem modificações em relação ao relatório de julho.

Dito isso, a qualidade das lavouras de soja nos EUA, no dia 07/08, acabou recuando novamente para 59% entre boas a excelentes, enquanto 30% estavam regulares e 11% entre ruins a muito ruins. Do total semeado, 89% estavam em fase de floração naquela data, com 61% em estágio de formação de vagens. Quanto às exportações de soja, na semana encerrada em 04/08, os EUA apontaram embarques de 867.504 toneladas, superando as expectativas do mercado. Em todo o ano comercial, o país já embarcou 54,5 milhões de toneladas, ou seja, 7% a menos do que no mesmo período do ano anterior.

Já pelo lado da demanda, as importações de soja por parte da China, em julho, recuaram 9,1%, devido a margens de moagem fracas e consumo interno menor. O total importado pelos chineses, no mês, ficou em 7,9 milhões de toneladas, contra 8,7 milhões um ano antes, no mesmo mês. Em relação a junho, as importações recuaram 4,5%. Colaborou, igualmente, para este quadro, os constantes lockdowns que a China tem feito, dentro de sua política de Covid-19 zero.

Ao mesmo tempo, as margens de esmagamento junto às indústrias chinesas continuam negativas, sendo que no dia 05/08 os industriais do setor perdiam US$ 95,26/tonelada processada, sem falar na forte crise suinícola que se abate sobre aquele país desde 2018, tendo deixado as margens negativas nesta criação nos primeiros cinco meses do corrente ano. Com isso, de janeiro a julho de 2022, a China importou 54,17 milhões de toneladas de soja, com um recuo de 5,9% sobre o mesmo período do ano passado.

Segundo diferentes analistas, “a demanda chinesa por soja - e commodities de uma forma geral - passa por uma clara transformação e o mercado agora busca entender se trata-se de um movimento definitivo ou não. Os números de 2022 têm se mostrado mais contidos em relação a anos anteriores, todavia, a nação asiática vem buscando soja para os meses mais distantes, referentes à oleaginosa da safra 2022/23 dos Estados Unidos. Isso porque começa a surgir uma melhoria no setor suinícola do país.

Hoje, o plantel suinícola local só é menor do que o de 2021, sendo o segundo maior da história. Com isso, projeta-se aumento de quase 9% nos abates em 2022, em relação ao ano passado.” Espera-se que a demanda por soja, na China, volte a crescer nos próximos meses, diante de tal quadro, embora o país oriental já tenha recomposto seus estoques de reserva. Esta demanda adicional, se vier, poderá beneficiar o Brasil. Nosso país teria exportado, para todos os destinos, um total de 54,6 milhões de toneladas de soja até o final de julho. O volume é 25% menor do que um ano atrás e 14,4% menor do que a média dos últimos cinco anos. Isso ocorre devido a menor oferta nacional após as importantes perdas ocorridas na última safra da oleaginosa nacional.

Neste quadro, os preços no Brasil fecham, a presente semana, com a média gaúcha no balcão ficando em R$ 175,36/saco, enquanto nas demais praças nacionais o preço oscilou entre R$ 160,00 e R$ 168,00/saco. Por sua vez, novas projeções elevaram a área a ser semeada com soja no Brasil na próxima safra. Agora, a mesma está prevista em 43,02 milhões de hectares. Em clima normal, tal área poderá resultar em 151,8 milhões de toneladas, com aumento de 20% sobre as 126,6 milhões colhidas no ano anterior. O principal aumento se daria no Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. Enquanto isso, a comercialização da safra passada atingia a praticamente 80% do volume colhido, até o dia 05/08, contra 74,3% em julho. No mesmo período do ano passado o volume negociado chegava a 81,9% do total, enquanto a média histórica, para a data, é de 82,6%. Já para 2022/23, estima-se que 17,3% já estariam comercializados antecipadamente, contra 23% no ano anterior e 21,5% na média histórica.

Em paralelo, a produção de farelo e óleo de soja deve bater recorde neste ano no Brasil. Isso, a partir da constatação de que o esmagamento da oleaginosa cresceu 6,6% no primeiro semestre do corrente ano. Com isso, o país deve produzir 37,2 milhões de toneladas de farelo em 2022, 200.000 a mais ante a projeção do mês anterior, e 9,85 milhões de óleo, aumento de 50.000 toneladas em relação à última estimativa, com uma firme demanda local e também no exterior. As exportações de óleo de soja devem atingir o maior volume desde 2008, com 2,15 milhões de toneladas, compensando a mistura menor de biodiesel no diesel este ano, de 10%, em relação a 2021, quando variou de 10% a 13%. O farelo também deve registrar recorde na exportação, de 18,6 milhões de toneladas, após aumento de 100 mil toneladas em relação à estimativa anterior. Em relação ao consumo interno, as projeções se mantiveram estáveis, ficando em 18,1 milhões de tonladas para o farelo e 7,9 milhões de toneladas para o óleo.

Assim, o esmagamento de soja no Brasil, em 2022, deve crescer cerca de 800.000 toneladas sobre o ano anterior, atingindo um volume de 48,6 milhões de toneladas, o que seria um recorde histórico. Isso seria possível porque o volume final da última safra nacional de soja foi recalculado para 126,6 milhões de toneladas, contra as 125,8 milhões anteriores. Em tal contexto geral, o mercado da soja continuará muito volátil no Brasil, com forte dependência, além do resultado da colheita nos EUA e, por consequência, das cotações em Chicago, também da demanda chinesa e, especialmente, do câmbio no país após as eleições presidenciais de outubro. Não se descarta que as melhores oportunidades de preços, para a futura safra, já tenham passado. Porém, isso é bastante relativo, pois esse mercado está muito instável.

Em termos regionais, no Mato Grosso as vendas da safra anterior chegaram a 84% do total ao final de julho. O recuo nos preços vem travando as negociações. Já para a safra 2022/23 as vendas antecipadas atingiram a 25,5%, com a média de preços obtida atingindo a R$ 152,03/saco em julho. Dito isso, pelo lado dos fertilizantes, o Brasil teria importado, nos sete primeiros meses do ano, 23,9 milhões de toneladas, contra 40 milhões no ano inteiro de 2021. A boa notícia é que a relação de troca, da soja com o cloreto de potássio, sofreu mais uma queda nessa primeira semana de agosto. A média do mês de junho terminou em 35,4 sacos para uma tonelada do fertilizante. Agora, a mesma passou a 32,2 sacos.

As informações são da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário - CEEMA

Fonte: Agrolink

Data: 15/08/2022